Poesia espírita
Poesia Espírita
O DOENTE E O MÉDICO
Conto dedicado ao Sr. Redator do Renard, de Bordeaux,pelo Espírito batedor de Carcassonne
“Não há como agüentar, doutor; é muito forte,
Exclamava, outro dia, o Sr. Rochefort!
Tomai-me o pulso, e vede estou doente;
De uma mania o globo é preso inteiramente.
Ele faz crer que Deus perdeu sua função;
Ele baixa... e eu maldigo o globo inteiro, então.
E começo a vapor... É assim que se caminha?
Onde os tempos enfim de uma berlinda minha?
Tempos sem risco algum de o pescoço quebrar,
Que de Paris a Sceaux um grupo a viajar?
Em progresso falar!... Ridículo, doutor!
Lançado a toda brida, o orbe soluça em dor;
É qual horrível caos!...Um cabo a transportar
De Calais a Pequim palavras sob o mar.
Um alfaiate faz costuras sem agulhas;
Tira-se da água fogo e de algodão fagulhas;
Mau pintor por pincéis um aparelho usando,
Retratos venderá que o sol vai fabricando!
Glória, glória ao passado! O século se envala
Esbraveja a igualdade; o povo tem a fala!
De escrever em Bordéus, Sabò faz avisado!
Examinai, doutor, tudo está transtornado.
Dos charlatães terei de desnudar a pele;
Com a breca! Informarei o chefe da Etincelle;
É lá que, sabre à mão, um crânio nos defende;
Não é tudo, doutor, ó escândalo! pretende
Alguém de La Fontaine assumindo expressões,
De um Espírito tal para nos dar lições.”
– Ici, de Rochefort cuspiu, baixando a voz:
“No Espírito, doutor, com fé já crede vós?
Ah! Responde o doutor! insincero, não posso,
O Espírito?... Não creio, amigo... nem no vosso.”
Nota – Este conto, cujo mérito deixamos ao leitor julgar,foi obtido espontaneamente pela tiptologia, como outras encantadoras poesias do mesmo médium, a propósito de um espirituoso artigo do Sr. Aug. Bez, inserido no Renard, que deseja franquear suas colunas aos adeptos do Espiritismo. Etincelle é um outro jornal de Bordeaux, redigido pelo Sr. Rattier, que lança fagulhas contra o Espiritismo com o objetivo de o incendiar, mas que, até agora, só conseguiu produzir uma iluminação semelhante à das centelhas dos fogos de artifício, que se apagam antes de tocar a terra. Quanto ao Sr. Rochefort, certamente achará esta poesia malsã.
R.E. , fevereiro de 1863, p. 99